As redes móveis de quinta geração estão sendo concebidas para revolucionar o modo como iremos utilizar a telefonia móvel no futuro. A alta capacidade de transferência de dados irá abrir as portas para a realidade aumentada e para a realidade virtual, com implicações no comércio, propaganda, consumo de mídia e entretenimento. A Internet das Coisas irá trazer uma miscelânea de novos dispositivos conectados, permitindo novos serviços para a sociedade digital. A redução da latência trará uma nova experiência para jogos on-line, além de viabilizar aplicações como soluções ativas de segurança veicular, controle de dispositivos reais e virtuais e suporte para a indústria 4.0 através da rede 5G.

 

Todos esses avanços indicam uma tendência de redução do tamanho da célula 5G em relação aos 10 km de raio possível hoje com o 4G. As chamadas “small cells” irão permitir o aumento do tráfego por km2, redução da latência, maior robustez, maior quantidade de dispositivos conectados e economia de energia dos dispositivos móveis, sendo esta última vantagem essencial para o cenário de Internet das Coisas. Mas há um importante cenário para a realidade brasileira que não será atendido por essa tendência de redução do tamanho das células do 5G, que é a cobertura em áreas remotas.

 

Hoje, nós temos uma excelente oferta de conectividade em regiões urbanas. Em áreas remotas, no entanto, não há uma solução tecnológica que viabilize o acesso à Internet com um custo viável. Isso cria uma fronteira que deixa um grande número de pessoas desconectadas, ou seja, à parte da sociedade digital e da era da informação. A ITU estima que haja 3,9 bilhões de pessoas em todo o mundo sem conexão com a Internet hoje, sendo que a grande maioria destes desconectados vivem em áreas rurais e regiões afastadas dos grandes centros. A criação de um modo de operação para redes 5G, que viabilize a cobertura em áreas remotas, terá um grande impacto na vida dessas pessoas. Os benefícios são vários. Maior acesso à informação, incluindo educação e treinamento para melhorar a eficiência das pequenas propriedades rurais, comunicação e utilização das mídias sociais, acessos aos serviços de e-gov e e-commerce, entre outros benefícios usufruídos por aqueles que já estão conectados.

 

Mas os ganhos não ficam restritos apenas à esfera social. Há diversos benefícios econômicos, onde a informatização do campo é uma das aplicações mais interessantes. O Brasil está se posicionando cada vez mais fortemente como um dos principais fornecedores de produtos agropecuários para o mundo. De grãos aos diversos tipos de carne, o Brasil já é visto como uma potência do agronegócio e a pressão pelo aumento da produção é constante. Mas esse aumento não pode vir associado com os elevados índices de impacto ambiental. É preciso aumentar a produtividade por metro quadrado das propriedades rurais já existentes. Para isso, é necessário ter informação e automação aplicadas aos processos agropecuários. Sensores de solo medindo umidade determinam a necessidade específica de irrigação em cada setor de uma área cultivada, melhorando a eficiência do uso da água. O uso de drones autônomos para pulverização de pesticidas reduz o desperdício de produto, garante melhor qualidade na aplicação e diminui o risco de contaminação de outras áreas. O uso de tratores e colheitadeiras autônomas resulta em menor custo operacional e maior eficiência nas atividades de cultivo. O monitoramento do posicionamento e da saúde de gado através de coleiras inteligentes facilita o manejo de grandes rebanhos, permite a atuação rápida no caso do início de foco de febre aftosa e redução do impacto de um eventual embargo através de uma rastreabilidade precisa da carne produzida.

 

No entanto, para que tudo isso possa ocorrer, é necessário que haja uma infraestrutura de comunicação confiável em áreas remotas. As tecnologias que estão sendo desenvolvidas para as redes 5G possuem o potencial de romper com essa barreira de cobertura e, de fato, oferecer um acesso universal à informação. Mas é preciso adequar essa tecnologia para este cenário esquecido. É necessário criar uma Rede 5G para Áreas Remotas que faça parte do padrão global de comunicação móvel, ficando disponível para atender as demandas de comunicação das áreas afastadas de qualquer país, mantendo a compatibilidade de equipamentos para beneficiar este setor com a produção em larga escala.

 

Um novo modo de operação das redes 5G para Áreas Remotas tem um grande potencial de trazer novas oportunidades para diversos setores. Operadoras terão acesso a um novo leque de clientes, fabricantes terão novas linhas de equipamentos e produtos, produtores rurais poderão evoluir com os seus processos e as pessoas passarão a ter maior acesso à informação. São muitos os benefícios para deixarmos essa oportunidade passar em branco. É necessário que setores como academia, governo, produtores rurais, operadoras e fabricantes de equipamentos de infraestrutura de comunicação e de terminais para os usuários se unam para fazer do 5G uma rede de comunicação sem fronteiras, ou seja, uma verdadeira rede global de comunicação.  

Luciano Leonel Mendes
Luciano Leonel MendesProfessor
Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é coordenador de Pesquisa do Centro de Referência em Radiocomunicações (CRR). É professor titular da graduação, pós-graduação e mestrado do Inatel. Integrou importantes pesquisas na área de TV Digital, sistema de recepção e antenas inteligentes e atualmente suas pesquisas estão voltadas à comunicação digital e soluções para a camada física do 5G.