A relação entre tabagismo e morte por câncer foi publicamente negada pela indústria fumageira durante 05 décadas, E ainda pior, através de estratégias de marketing , a indústria buscou desacreditar e desestabilizar perante a opinião pública o conhecimento científico sobre os malefícios do tabaco que começou a se acumular a partir da década de 50. Mais grave ainda é o fato de que documentos mostram que a própria indústria vinha confirmando as ações nocivas dos cigarros através de pesquisas internas sigilosas que nunca foram divulgadas
No ano passado, depois da divulgação desses documentos, e diante das esmagadoras evidências científicas, a própria indústria se rendeu publicamente, reconhecendo que o cigarro causa câncer de pulmão e que a nicotina causa dependência.

Pesquisas mostram que não existem níveis seguros de exposição a fumaça do tabaco, pois mesmo fumantes leves (< 10 cigarros/dia) apresentam risco 6 vezes maior de adoecer do que não fumantes
Considerando esses fatos. a partir da década de 70, a comunidade científica passou a se preocupar com os possíveis riscos para a saúde dos não fumantes expostos à poluição tabagística ambiental (PTA), pois não fumantes podem, dependendo do nível de exposição, estar inalando passivamente o equivalente a até 10 cigarros/dia.
Das quase 5000 mil substâncias encontradas na fumaça inalada pelo fumante, cerca de 400 foram identificadas em quantidades comparáveis na fumaça liberada para o ambiente. Dessas 60 apresentam atividade comprovadamente carcinogênica para o homem.

No entanto, mais uma vez a história se repete. Atualmente, apesar das fortes evidências científicas sobre os danos causados pelo tabagismo passivo, a indústria vem se colocando contrariamente a elas e, através de estratégias de marketing bem elaboradas e frente a opinião pública, colocando em dúvida resultados de importantes pesquisas isso porque elas mostram que as políticas de restrição ao consumo de derivados de tabaco, em ambientes de trabalho, vem resultando em taxas de cessação de fumar da ordem de 10 a 20% em um ano.

Hoje, com o objetivo de reverter o processo de rejeição social ao comportamento de fumar, a industria criou pateticamente uma nova jogada de marketing, onde nitidamente só expõe resultados científicos que as favorecem, sem nenhum tipo de aprofundamento sobre o tema. É como se tivesse avaliando os riscos de um grande iceberg, apenas pelas pequenas dimensões que afloram a superfície da água.

Evidências sobre os danos à saúde dos não fumantes expostos à poluição tabagística ambiental (PTA).

Através de revisões abrangentes realizadas por respeitáveis organizações científicas internacionais governamentais e não governamentais como o Surgeon General dos EUA, a U. S. Environmental Protection Agency (US. EPA), o National Research Council e o IARC, tem sido evidenciada a associação causal da PTA com doenças respiratórias, incluindo enfisema e câncer de pulmão. asma infantil e infecções respiratórias infantis.

A análise do peso das evidências para identificação do risco de câncer de pulmão é desenvolvido de acordo com EPA’s Guidelines for Carcinogen Risk Assessment (US EPA, 1986ª) e estabelece princípios para avaliar o potencial carcinogênico de um determinado fator. A análise considera ensaios em animais de laboratório, estudos de genotoxicidade, bem como avaliações biológicas da absorção dos componentes da PTA por seres humanos e dados epidemiológicos relativos ao tabagismo ativo e passivo. A disponibilidade de abundantes e consistentes dados de pesquisa em seres humanos, especialmente dados sobre os reais níveis de exposição a agentes específicos da PTA, permitem uma identificação do risco, que pode ser feita com um alto grau de certeza. Evidências conclusivas, tais como o efeito dose-Resposta da carcinogenicidade pulmonar ocasionada pela fumaça tragada por fumantes ativos, somadas aos danos que mostram similaridade de composição entre a fumaça inalada pelo fumante e a liberada para o ambiente e as evidências de absorção da PTA, em não fumantes, são suficientes para estabelecer a PTA como tendo ação carcinogênica comprovada para humanos (classe A), dentro do sistema de classificação de carcinógenos do EPA e do IARC.
Dentro desse contexto, existem atualmente uma série de evidências científicas suficientes para que sejam tomadas medidas para proteção dos indivíduos à exposição involuntária à PTA. É, portanto, fundamental que as considerações sobre risco secundário a essa exposição, levem em conta todas as evidências obtidas, através de vários métodos de avaliação, e não se baseiem exclusivamente em estudos epidemiológicos isolados, que muitas vezes utilizam apenas a aplicação de questionários retrospectivos e, portanto, têm uma grande probabilidade de avaliar de forma inadequada o grau da exposição à PTA e, conseqüentemente, o seu risco.

Caso contrário esta avaliação é insuficiente e, no mínimo geradora de conclusões tendenciosas.
Se levados em conta apenas os estudos epidemiológicos realizados, algumas considerações podem ser feitas. Alguns estudos que apresentam riscos relativos < 2,0 mostram uma força de associação entre a exposição e a doença que não é alta. No entanto, se levados em conta o tamanho da população exposta passivamente à fumaça do cigarro (que no Brasil pode ser de no mínimo 50% da população, ou seja 75 milhões de habitantes), passam a ser importantes. Representam o mesmo que os juros da caderneta de poupança de 2% para uma aplicação de R$ 6 milhões, em contraste com uma aplicação de R$ 600,00, ou seja, seu impacto toma outra dimensão. Por outro lado, os poucos estudos que não confirmam estas associações, quando avaliados isoladamente, não podem afastar a relação causal entre a PTA e o adoecimento em não fumantes, nem, tampouco, fazem concluir que o risco de adoecimento por PTA é insignificante.

Quanto à significância estatística de um estudo, esta é dependente do tamanho da amostra que em nestes poucos estudos não conclusivos, ainda não tem número suficientes de casos estudados. Informações vindas da Associação de Direitos dos não-fumantes da Inglaterra (ASH), sugerem que todo esse movimento de marketing da indústria surgiu devido ao fato de que um comitê nomeado pelo governo da Inglaterra e constituído por peritos independentes liberou um relatório esta semana com propostas para o governo britânico. Concluíram, à luz dos conhecimentos atuais, que o tabagismo passivo é uma causa de câncer de pulmão, de doenças respiratórias, e de infarto do coração em adultos e de morte súbita, e crises de asma em crianças. Este comitê recomendou que o governo restrinja o tabagismo em locais públicos, proíba todo tipo de publicidade e promoção do tabaco e regulamente a nicotina como droga, gerando uma ação publicitária da indústria com a perspectiva de desviar a atenção da população.

O Instituto Nacional de Câncer, do Ministério da Saúde, mantendo seu compromisso com a saúde da população brasileira, mantém seu alerta sobre os riscos advindos da exposição à fumaça do tabaco e reitera as recomendações de restrição à poluição tabagística ambiental, alertando para a necessidade de políticas de controle do tabagismo cada vez mais alinhadas com as recomendações da Organização Mundial da Saúde.

Na tabela anexa estão colocados todos os critérios que tomam a exposição à fumaça ambiental um fator causal de câncer de pulmão, à luz dos conhecimentos científicos atuais.

Evidência da associação causal da exposição a PTA e câncer de pulmão, a partir de estudos de mulheres nunca fumantes submetidas a graus variáveis de exposição ao tabagismo do cônjuge

Critérios de causalidade em estudos epidemiológicos
Aplicação aos dados sobre a relação entre câncer de pulmão e PTA
Força de associação A taxa global de risco relativo de 1,2 a 1,4 não é alta. Os riscos relativos para as exposições mais elevadas situam-se próximos de 2
Dose-resposta
Em todos os estudos que relatam múltiplas exposições existe um efeito significativo nos submetidos a exposições intensas. Em muitos estudos observa-se um efeito dose-resposta estatisticamente significativo
Consistência A evidência de forma geral é consistente uma vez que a maioria dos estudos mostram um risco relativo(RR) >1. Seis estudos apresentam RR >1; apenas 1 estudo apresenta um RR <1 com significado estatístico.
Especificidade
Esse critério não é útil nesse estudo uma vez que câncer de pulmão não é um resultado específico da PTA
Relação Temporal O Câncer de pulmão surge após a exposição em questão, após um espaço de tempo bastante razoável. Estudos de cortes encontraram uma associação positiva.
Plausibilidade Biológica
O Efeito da PTA em causar câncer de pulmão é biologicamente plausível(possível) , uma vez que o tabagismo ativo causa a mesma doença, sem um limite de exposição seguro. Estudos em animais confirmam que a PTA pode causar Tumor no pulmão.
Evidência experimental Não existem dados disponíveis a partir de experimentos em seres humanos
Conclusões por analogia
A exposição a PTA é análoga ao tabagismo ativo, conhecida causa de câncer de pulmão.
Coerência das evidências A evidência é razoavelmente coerente